PORQUE EU NÃO VOU ASSISTIR DIÁRIO DE BRIDGET JONES 3

Vou usar esse momento para desabafar algo que me irrita desde 2004. Helen Fielding e Andrew Davies (roteiristas do filme "Bridget Jones 2: No Limite da Razão) conseguiram destruir com a minha personagem preferida da literatura.

Ok, não estou aqui para defender ou acusar os méritos das adaptações cinematográficas de livros. Especialmente porque a versão livro é sempre (sempre) melhor que a versão filme.

Mas, "Limite da Razão" é uma piada, não um filme. E ser co-escrito pela Helen Fielding – autora dos livros e criadora da Bridget – é uma vergonha maior ainda.

Com a adaptação do primeiro livro, em 2001, algumas liberdades foram tomadas, para que a adaptação fizesse sentido. A própria Helen explicou algumas modificações que teve que fazer. O caso da mãe da Bridget com o português, por exemplo, ficaria caricato demais para um filme.
Ok, faz sentido.

Não à toa, as histórias da Bridget têm seguidoras pelo mundo todo. As aventuras de uma mulher solteira, vivendo em cidade grande, tentando achar um cara bacana, aguentar as neuroses de sua família e suportar seu trabalho infeliz fazem qualquer uma se identificar.

O segundo livro, em que ela arruma um namorado, é ainda melhor que o primeiro. Aqui, Bridget tenta conciliar o fato de ter conseguido o namorado perfeito com as amigas ainda solteiras. Como abandonar a família urbana que a acompanhou por tantos desastres?? Como ser feliz em um relacionamento sem ser uma "smug married" como algumas das mulheres que eram tão más com a Bridget e suas amigas?

Em uma passagem, uma das mais divertidas do livro, Bridget e Mark Darcy tem uma conversa sobre como os livros de auto-ajuda são uma nova religião.

O filme também perde com a falta de diversos personagens incríveis. Vil Richard, que acaba casando com Jude no final; Magda, a amiga cujo marido está tendo um caso; Giles, o colega de escritório do Mark recém-divorciado que usa Bridget como um guru em relacionamentos fracassados.

Personagens que representam amigos que todos temos e logo reconhecemos lendo o livro.

E as eternas brigas da Bridget com sua mãe maluca? Quem não se identifica com essa parte do livro???

Mas acho que o pior aqui é o que foi feito com a Rebecca. Rebecca é aquela amiga que nem sabemos que temos. Que parece que está fazendo um elogio, mas na verdade está acabando com a gente. Que ninguém sabe como ou porque, mas consegue acabar com o nosso dia.

Numa cena clássica, a primeira vez que Rebecca aparece nos livros, Bridget a descreve vindo de uma nuvem do perfume Envy da Gucci. Impagável.

E ela está, sim dando em cima do namorado da Bridget. Na cabeça dela é inconcebível como uma garota tão boba e acima do peso consegue ficar com o cara mais incrível. Não é paranóia. É o pior pesadelo de todas: a biscate dando em cima do seu namorado.

No filme? Nenhum personagem divertido, nenhuma cena comovente de mãe e filha. E Rebecca? Na verdade, ela é gay e está dando em cima da Bridget. ABSURDO! RIDÍCULO!!

Acho que o pior mesmo foi ter transformado uma mulher com neuroses normais e falhas humanas em uma piada.

A própria Helen falou que nunca revela em seus livros a idade da Bridget ou sua altura. Somente que ela tem mais de 30 e seu peso. Assim, o leitor nunca sabe se ela está realmente tão acima do peso ou se é uma neurose típica feminina.

No filme, Bridget é uma gordinha patética, louca pra se amarrar no carinha rico que sua mãe indicou. Uma porca que não sabe o que está fazendo e que só serve de piada para a platéia.

A própria obsessão da Bridget-filme com casamentos é algo que nem passaria perto da Bridget-livro. Um namorado, companheiro, cara-metade sim era a busca da Bridget-livro. Mas um casamento??

E agora, a turma toda se reuniu pra terceira aventura da Bridget (e aliás, nem existiu um terceiro livro).

Agora, Bridget luta contra seu relógio-biológico para ter um filho antes que seja tarde demais.

Já dá pra antecipar o desastre, não????