segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ESCLARECENDO "A OUTRA"

Dia desses o Telecine apresentou o filme "A Outra", baseado no livro de Philippa Gregory, "The Other Boleyn Girl", que narra a disputa das irmãs Anne e Mary Boleyn pelo rei Henry VIII da Inglaterra.

Já que o filme (e o livro, nesse espírito) mostra uma realidade bem diferente da que aprendemos nas aulas de historia (e da que estamos acompanhando em The Tudors), resolvi fazer um post para explicar o que é historicamente certo (quase nada) e o que é historicamente errado (quase tudo) no filme.

Ele parece feito especialmente para as atrizes Natalie Portman e Scartlett Johansson, que interpretam Anne e Mary respectivamente, se promoverem. Todas as discrepâncias que ocorrem depois disso só servem para elas se acharem mais um pouco.

Pra começar, a personalidade das irmãs. Já que Mary não foi rainha da Inglaterra, não se sabe muito sobre ela. No filme, ela é mostrada como boazinha, inocente e inexperiente. Já a Anne aparece quando manipulativa, ambiciosa e cruel. Outros historiadores mostram que a Mary não era essa florzinha e que a Anne era inteligente, interessada em arte e política, leal a família e amigos e incrivelmente generosa.

A Mary de verdade passou um tempo na França, como dama de companhia da rainha Mary Tudor (mais sobre ela abaixo), esposa do rei Louis XII. Após a morte do rei, seu primo Francis I assumiu. Mary se manteve na corte francesa, como amante de alguns dos nobres e do próprio rei, que lhe deu o "apelido" great prostitute. Mary se casa então com sir William Carey, com quem tem dois filhos (Catherine e Henry). Nenhum desses acontecimentos é mostrado no filme.
Nesta época, Mary já estava na corte inglesa e era uma das amantes do rei. Existiam rumores sobre a paternidade de seu segundo filho – alguns diziam realmente que ele era filho de Henry VIII. Mas, sem provas. E, já que Henry assumiu outros de seus filhos bastardos (por exemplo, Henry Fitzroy, com Bessie Blount) não haveria razão para que não assumisse também este filho. A gravidez de alto-risco de Mary e seu confinamento à cama são outras invenções fictícias do filme.

Anne Boleyn de verdade foi noiva de Henry Percy e teve seu noivado anulado pelo Cardeal Wolsey a pedido do rei (que, possivelmente, já tinha alguns interesses na Anne). Contrario do que é mostrado no filme, Anne e Percy nunca se casou em segredo. E, logo após o termino do seu noivado, ela foi sim estudar na corte francesa, onde seu pai atuava como embaixador da Inglaterra. Ela nunca foi exilada ao país.

Quando voltou à corte inglesa, era muito querida por todos e frequentava um circulo social diferente da irmã. E ela e a imã frequentavam diferentes "grupos". Nunca houve, de fato, uma disputa pelo rei. Quando este passa a perseguir Anne, seu caso com Mary já havia terminado há tempos.

O casamento do rei com a Anne é mostrado no filme como uma briga de poderes. Na verdade, os dois foram muito apaixonados e desfrutaram de uma convivência pacifica e feliz por muitos anos. A cena de estupro do filme é mais uma das discrepâncias horríveis com a realidade dos fatos.
Inclusive, as inúmeras cartas que Henry escrevia a Anne foram usadas como prova de que seu relacionamento não foi consumado antes do casamento. Uma dessas cartas é usada no filme, mas como se Henry a tivesse escrito para Mary.

Por algum tempo, Mary continuou acompanhar a irmã na corte. Com a morte de seu marido, foi Anne que garantiu uma pensão a irmã e educação para o sobrinho. Porém, Mary casou-se em segredo com o soldado William Stafford. O casamento foi condenado por toda a família Boleyn, pela falta de nobreza de Stafford e Mary foi desonrada da família e banida da corte. pedir ajuda financeira. Anne deu dinheiro à irmã, mas não a recebeu de volta na corte.

Não houve contato depois disso. Mary nunca visitou os irmãos na prisão (e certamente nunca tentou intervir com o rei a seu favor). Assim como seu tio, (Duke of Norfolk) resolveu se afastar da família após caírem em desgraça.

No filme, a briga de poder entre Thomas Cromwell não são mencionadas. Quem assiste ao filme acha que Anne Boleyn era uma menina chata e mimada que merecia morrer e só colheu o que plantou. Na realidade, diversos fatos contribuíram para sua execução. Após a morte de Catherine of Aragon e o aborto que sofreu, seu casamento ficou em perigo. Seja a pedido do rei ou não, Cromwell começou então a criar um caso de traição, torturando e mentindo, para condena-la injustamente.

Incluímos aqui a acusação de incesto com seu irmão George. Nunca iremos saber o que realmente aconteceu, mas, vamos contar isso como mais uma das inverdades do filme.
Adoro o ator Jim Sturgess, mas sua interpretação de George Boleyn foge muito da realidade. Gerorge, ao contrário do que mostrado no filme, foi muito digno em seu julgamento e execução.
Até sua morte, Mary viveu confortavelmente no interior com seu segundo marido, com quem teve mais dois filhos. Ela nunca adotou ou criou a sobrinha Elizabeth.

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